Havia eu escrito que uma das decorrências ruins da procrastinação ilimitada é o sentimento de incompletude que me aflige quando deixo algo para tão tarde que acabo por perder a chance de realizá-lo com êxito, fazendo assim com que um vazio se forme no meu peito por tempo indefinido. Até que a sensação passe ou até que eu resolva meus problemas de uma vez por todas.
Entretanto, o que parece ser exclusivamente ruim não o é. O sentimento de incompletude pode trazer seus benefícios, sem dúvidas. Quando ele acontece como consequência de uma ação desmedida, como a procrastinação, via de regra é ruim.
O que acontece é que esse sentimento tão esvaziador pode vir antes: como um pressentimento, ou melhor, pré-sentimento. E esse pré-sentimento se transforma em alerta para ações futuras.
O que quero dizer é: quando o vácuo da incompletude vai aparecendo aos poucos, sabe-se que há algo por terminar, e assim pode-se tomar o rumo certo a ser seguido. Ou seja, o mesmo sentimento que pode vir como decorrência da procrastinação também é remédio eficaz contra ela, quando percebido e controlado.
Por isso é importante que se aprenda a entender quando o sentimento de incompletude passa a tomar conta de nós: significa que é chegada a hora de impor regras a nós mesmos e a tudo que nos cerca, como trabalho, escola ou outros compromissos – por menores que sejam, podem ser essenciais. É aí, então, que a incompletude passa a se tornar completa e a procrastinação… Ah, essa pode ficar para depois.
Por Gabriel Goes