Há relatos de que pessoas tenham se suicidado durante a radiodifusão, tamanho foi o temor que assolou a população norte americana naquele momento. Pessoas fugiram de suas casas e causaram um alvoroço geral, mesmo que por algumas horas e em uma escala menor do que seria posteriormente divulgado.
Hoje, o contexto histórico, político e social é completamente diferente. Uma sociedade complexa que ainda estava se formando agora está totalmente consolidada, com suas bases capitalistas e informacionais sendo, a cada dia, mais fundamentadas. Ao contrário de 1938, a situação atual do mundo não é de guerra, pós-guerra ou iminência dela, há certa estabilidade econômica e política e o mundo é muito mais conectado.
A partir do ano da transmissão de Welles surgiram ou consolidaram-se a televisão, grandes empresas de comunicação e, posteriormente, computadores e a internet, que hoje reina sobre a rede informática mundial. O rádio perdeu muita força, mas em compensação todos os outros meios se desenvolveram e, finalmente, se interconectaram.
A situação que se tem hoje é de uma rede de informações complexa, ágil, rápida, imediatista, incessante e em tempo real. Ferramentas como as redes sociais permitem que canais de comunicação estejam 24 horas por dia divulgando matérias, histórias e fatos sem que se apurem muitas das coisas e se perca quase nada. Surge, então, a pergunta: Qual é o impacto de uma notícia hoje?
Uma notícia amplamente veiculada, reproduzida por grandes canais de comunicação na televisão, nos jornais impressos e na internet, com vídeos e fotos, é quase sempre tomada como verdadeira. Hoje em dia, os meios de comunicação são a principal fonte de informação, e eles criam uma estranha relação entre a sociedade e uma realidade que não pode ser diretamente comprovada por ela, mas é aceita como tal.
Portanto, por mais que as pessoas tenham criado uma consciência maior e os níveis de informação e escolaridade médios tenham crescido, por outro lado as notícias que são despejadas para cima da população são de uma escala exponencialmente muito maior e crescente, e é difícil discernir entre tudo isso, ainda mais com o senso vigente da necessidade por velocidade. É seguro dizer que uma notícia inventada, mas veiculada como verdade, que não dê margem para descoberta de uma possível fraude facilmente, através de todos os meios de comunicação, pode realmente tomar ares de veracidade.
Talvez, se Orson Welles quisesse medir, hoje, o poder dos meios de comunicação, almejando um resultado semelhante ao que conseguiu na década de 1930 com o rádio, espalhando pânico pela população com a invenção (ou simplesmente a interlocução de uma novela de ficção científica) de uma invasão alienígena, ficasse desapontado. Uma notícia falsa veiculada por um site na internet logo terá seu conteúdo desmentido por outro, mesmo que algumas pessoas se percam em confusão, ainda mais na interconectividade das redes sociais.
Porém, é também certo dizer que a realidade em que vivemos é pautada amplamente pelos meios de comunicação. A atualidade mediática composta por fatos que geram grupos de discussão, assuntos para tratar com os amigos e informação em geral não deixa margem para segregação da esfera dos meios de comunicação, impondo, de certa forma, uma opressão de notícias. Nem sempre, mesmo se informando, é possível manter contato direto com a realidade. Orson Welles poderia ficar desapontado por não conseguir simular uma nova invasão extraterrestre. Mas ficaria ainda mais surpreso ao descobrir o poder, ainda não totalmente explorado, dos meios de comunicação.
Fiquei satisfeito em concluir minha exposição factual e meus argumentos por aqui, até como forma de instigar ainda mais os questionamentos sobre os meios de comunicação. No entanto, a resposta dada por mim nesse texto dividido em duas partes só responde – e olhe lá! – à segunda pergunta inicialmente feita – sobre “A Guerra dos Mundos”. E isso explica porque o título deste post não diz “Parte Final”. O verdadeiro poder da Comunicação não pode ser tão simplesmente descoberto e decifrado. Quem sabe uma “Parte Final” nunca apareça por aqui. Mas não custa continuar buscando a resposta ou, quem sabe, ainda mais um questionamento.
Por Gabriel Goes