Aquele chamado pertubava minha alma desde o dia em que acordei e fui de encontro ao seu calor. Um pouco do fogo, ao que parece, tinha se instalado fundo nas minhas entranhas. Mas isso não era ruim. Fazia meu desejo de viver queimar mais forte. Fazia meus passos serem mais decididos. Porém, algo havia de errado. Não raramente, meu passo falseava, como se meus pés queimassem ao tocar o chão. A chama me chamava.
Hoje, tomei coragem. Vi o sol brilhando e inundando meu quarto como naquele dia, rasgando a cortina de nuvens cinzas. Peguei o que precisava. Fui de encontro, cuidadosamente, até aquela árvore flamejante, que se destacava, com a imponência usual, do verde e do azul. Senti que aquele era o caminho a trilhar.
Lá chegando, palavras não foram trocadas. Bastou um olhar meu para que meus olhos refletissem todo o brilho vermelho, intenso, do fogo que nunca vai parar de queimar. Senti a relutância da árvore em entregar um pouquinho da sua luz, mesmo que só por um instante. Porém, não havia como hesitar naquele momento. Saquei a câmera, o fogo explodiu dentro e fora de mim: foi só um clique. A chama estava domada.
Por Gabriel Goes